A médica paliativista Cristina Terzi, coordenadora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp participou, no mês de julho, da quinta edição do Fórum Retratos do Câncer, promovido pelo Estadão Blue Studio. O evento aconteceu na Unibes Cultural, em São Paulo. Os especialistas convidados debateram sobre as principais inovações no tratamento oncológico e os caminhos para que essas terapias cheguem a todos os pacientes.
O encontro foi divido em quatro painéis principais. No primeiro, os participantes falaram sobre o cenário da prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil. No segundo, a discussão teve como foco as inovações que estão transformando a forma como o câncer é diagnosticado e tratado. Terzi participou do terceiro bloco, onde os especialistas trouxeram as mais recentes abordagens sobre os cuidados paliativos na oncologia para proporcionar conforto, dignidade e qualidade de vida para pacientes com câncer avançado.
“Os cuidados paliativos são considerados como um direito humano. Todos tem o direito de receber uma equipe multiprofissional de saúde, capacitada para entender que vamos tratar da pessoa que tem a doença e não só da doença que a pessoa tem. Isso é um benefício para o paciente e para a família que diminui muito a ansiedade e o sofrimento”, destacou Terzi durante o Fórum.
No final, os participantes debateram sobre as desigualdades regionais no tratamento oncológico e iniciativas para descentralizar serviços, capacitar profissionais e melhorar a infraestrutura em áreas vulneráveis. A médica paliativista do HC lembrou que, em 2024, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Cuidados Paliativos para pessoas que enfrentam doenças graves ou crônicas e que, desde 2022, há uma resolução para se incluir o ensino de cuidados paliativos nas escolas médicas. “Na Unicamp, ele existe desde 2018 na grade curricular no quarto ano do curso de Medicina”, comentou Terzi.
Medo de falar sobre morte

Uma pesquisa realizada no período de abril a agosto de 2019 pela enfermeira e especialista em cuidados paliativos do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp Roberta Antoneli Fonseca com médicos-residentes do primeiro ano de clínica médica e cirurgia geral que atendiam pacientes em fase avançada de câncer e de outras doenças, já fora da possibilidade terapêutica de cura, mostrou que eles tinham dificuldade de falar sobre morte com o paciente e seus familiares.
Os médicos-residentes participantes do estudo apontaram a necessidade de criar disciplinas que abordem melhor a finitude da vida como parte natural da existência humana e que discutam formas de transmitir notícias difíceis, uma tarefa que requer outras habilidades, como responder às emoções dos pacientes, envolver-se na tomada de decisão sobre condutas, lidar com o estresse criado pelas expectativas de cura da doença, acolher múltiplos membros da família e gerenciar todo o processo de cuidado, ressaltou Fonseca nesse estudo que teve como orientadora Cristina Terzi.
“A morte é um evento que vai ocorrer para todos, porém como desejamos morrer é algo que evitamos falar. Às vezes não é possível evitar a morte do paciente. Mas, quando o cuidado paliativo é bem feito, conseguimos modificar o fim de vida para que o paciente tenha o menor sofrimento possível e possa trabalhar outros aspectos, vivenciar outros momentos que não teve a oportunidade de realizar”, explica Cristina.
Cuidados paliativos no HC
O Serviço de Cuidados Paliativos do HC foi criado em julho de 2018 e já em 2019 atendeu 101 pacientes internados. No ano seguinte, marcado pela pandemia de covid-19, foram atendidos 161 pacientes e em 2021, 190. Nos meses seguintes, esses números aumentaram. Até outubro de 2023, o serviço havia realizado mil atendimentos. O atendimento é provido pela equipe interprofissional do serviço e oferecido a todos os pacientes internados no hospital, incluindo àqueles em atendimento de urgência na Unidade de Emergência Referenciada (UER) – respeitando os valores manifestados por cada paciente e sua família.
Leia também a matéria publicado no jornal O Estado de São Paulo intitulada Brasil busca protagonismo global na oncologia.