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O estigma de não haver chances de cura para uma pessoa com artrite reumatoide sempre prejudicou a visão sobre os seus cuidados. Hoje, essa concepção começa a mudar com as várias possibilidades de tratamento e com as investigações que se prestam a desvendar pontos obscuros do conhecimento sobre a doença. No HC da Unicamp, no momento 100 pacientes estão sendo beneficiados pela terapia com as chamadas drogas biológicas. Estas drogas são medicamentos preparados para agir na artrite bloqueando as citocinas, que desencadeiam deformidades e incapacidade funcional. Segundo o médico Manoel Barros Bértolo, chefe da Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), as drogas biológicas têm colaborado para que um número maior de pacientes tenha pronta resposta contra a dor. O tratamento particular pode custar ao redor de R$ 5 mil. Mas estes medicamentos já começaram a ser fornecidos pela Farmácia de Alto Custo do HC, mediante resolução do Ministério da Saúde.

A artrite reumatoide incide em 1% da população brasileira e se caracteriza por uma inflamação crônica autoimune que atinge as articulações das mãos, punhos, pés e joelhos. Por outro lado, sua ação pode se estender a todas as articulações e alcançar ainda órgãos como pulmões, rins, olhos e vasos. A observação dos primeiros sinais no indivíduo é feita na vigência de quadros de dor e aumento do volume das articulações, os inchaços. Uma investigação mais apurada, no caso de suspeita de artrite, é realizada com auxílio de exames laboratoriais e raios-X.

Feito o diagnóstico da doença, o tratamento segue um protocolo no HC que utiliza drogas mais baratas e com desejável efeito para o controle da dor. Somente quando o paciente não responde mais ao tratamento convencional, com drogas como o methotrexate, leflunomida e cloroquina, avalia-se a propriedade dessas novas drogas biológicas, sempre associada a acompanhamento periódico.

Bértolo não se abstém de falar sobre o risco calculado dessa indicação, já que as drogas biológicas bloqueiam as citocinas, que são o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Em outras palavras, elas acabam favorecendo o aparecimento de processos inflamatórios, pois também bloqueiam a ação normal das citocinas, mas, neste caso, com o devido acompanhamento, os pacientes podem ter prognóstico positivo. “No entanto, eles se constituem grupos de risco e podem não responder bem a um processo infeccioso que se instalar.”

Mas esta é apenas uma possibilidade, já que estas drogas podem ser muito efetivas e devem trazer, além do alívio da dor, o alívio dos inchaços e ser empregadas por prazo indeterminado. “Uma das melhores respostas é que muitas pessoas conseguem movimentar as articulações normalmente”, revela Bértolo. De acordo com ele, estas drogas compreendem as etanercepte, adalimumabe e infliximabe; e, além dessas drogas, outras que têm correspondido bem, apesar de não estarem ainda disponíveis na rede pública, são as abatacepte-rituximabe e tocilizumabe. O especialista ressalva, porém, que a indicação da terapêutica mais apropriada deve partir sempre do médico.

Bértolo informa que o trabalho do reumatologista consiste sim muitas vezes em apenas controlar as doenças, impedindo que o paciente evolua para sua incapacidade funcional, e enfatiza que se deve esquecer hoje a cultura de que não existe cura da doença por ela ser crônica. “Existindo o controle, pode ser tão eficiente que praticamente representa a cura. Assim sendo, concluímos que a inquietude da cadeira de rodas precisa ser abandonada.”

Procedimentos – As drogas biológicas podem ser administradas por via subcutânea ou endovenosa. O Ambulatório de Reumatologia do HC da Unicamp, localizado no 3º andar do Hospital, destina a seus pacientes uma sala para estes procedimentos. Se houver resposta adequada, estes medicamentos podem ter um efeito prolongado. E é possível saber se a resposta está sendo assertiva ao tratamento logo nos primeiros três meses.

Bértolo relata que, fora a terapia medicamentosa, existe o tratamento cirúrgico, desde que a indicação seja precisa, ou seja, para aqueles pacientes que apresentam deformidades articulares sérias, que demandem correção. Estas cirurgias promovem o alinhamento das articulações ou mesmo a colocação de próteses, todas com resultados bastante animadores. Contudo, trata-se de um procedimento mais radical. Antes disso também existe um grupo de pacientes que se beneficia do tratamento convencional, com drogas mais leves e com menos efeitos colaterais. Somente quando o grupo não apresenta melhora, o médico pode então estudar seu encaminhamento para a terapia com os agentes biológicos ou mesmo optar pelo procedimento cirúrgico.

“As expectativas para o paciente com artrite reumatoide são, portanto, muito boas e a mesma sistemática vale para os pacientes com espondilite anquilosante (doença inflamatória de etiologia desconhecida, caracterizando-se pelo acometimento da coluna vertebral e sacroilíacas – coluna de bambu, no jargão médico) e artrite psoriásica (doença que afeta a pele, unhas e couro cabeludo, provocando placas em formato de gotas ou de moedas com descamações)”, comenta o reumatologista. “É importante salientar que essas novas terapias mudaram o padrão evolutivo das doenças, tendendo a diminuir seus efeitos indesejáveis e até mesmo drásticos”, conclui Bértolo, que também é coordenador de assistência do HC da Unicamp.

Isabel Gardenal (texto), Antoninho Perri (fotos) e Everaldo Luís Silva (edição das imagens)
ASCOM

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