OMS comprova o potencial cancerígeno da fumaça de motores a diesel


No último dia 12, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), pertencente a OMS (Organização Mundial da Saúde), divulgou a comprovação do fator cancerígeno da fumaça expelida pelos motores a diesel. O parecer é resultado de uma semana de discussões em Lyon na França, que reuniu especialistas de vários países.
 
Segundo o pneumologista do Hospital de Clínicas da Unicamp, Aristóteles de Souza Barbeiro, pesquisas como essa colaboram para o avanço das medidas preventivas não apenas para o câncer de pulmão, mas como outras doenças respiratórias. “A população está exposta a fumaça de motores a diesel não apenas no ambiente de trabalho, como é o caso dos empregados de mineradoras. Mas também no trânsito, em contato com a fumaça expelida por carros, caminhões, navios e geradores”, afirma ele.
 
Os resultados obtidos pelo Instituto Nacional de Câncer junto ao Instituto Nacional de Segurança e Saúde, ambos dos EUA, também contribuíram com informações. Eles comprovaram o aumento do risco de morte por câncer de pulmão em trabalhadores de minas subterrâneas. Uma associação, ainda sem evidências com respaldo definitivo, também associa essa exposição ao câncer de bexiga.
 
“Esse estudo indica um risco em média 1,26 vezes maior de câncer de pulmão e de acordo com a exposição a fumaça, o risco chega a ser seis vezes maior”, destaca Barbeiro. Outra pesquisa aponta um risco 1,7 vezes maior em pessoas que trabalham com transporte.
 
Embora a poluição ambiental não seja a principal causa de câncer de pulmão, é um fator importante, como nos casos de asma, lembra o pneumologista. Ele indica ainda o tabagismo como responsável por quase 90% dos casos da doença e prevê que com o combate a poluição, as consequências da exposição aos poluentes seriam ainda percebidas por mais vinte anos.
 
Já existem ações para melhoria da qualidade do ar, que envolvem o uso da tecnologia para minimizar a emissão de fumaça, como a formulação de combustível com menor nível de enxofre e a queima de diesel de forma mais eficiente. Mas isso não soluciona todos os problemas, as consequências dessa exposição ainda não são plenamente conhecidas, e muitos veículos antigos não contam com recursos para minimizar a fumaça expelida pelos escapamentos.
 
O presidente do grupo de trabalho do IARC, Christopher Portier, afirmou que, “a conclusão foi unânime: a exaustão do motor a diesel pode causar câncer de pulmão”. O resumo da avaliação feita pelo IARC será publicada na “The Lancet Oncology”, referência mundial.
 
Caminhões
A produção de caminhões no Brasil tem subido ano a ano chegando a 170.886 veículos em 2010. Os dados são pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entidade que representa as montadoras brasileiras. Já a frota de ônibus aumentou 70,6% entre 2000 e 2010. Especialistas asseguram que a idade avançada da frota de caminhões no Brasil gera inúmeros problemas, que passam pelo aumento das emissões de poluentes além do maior número de acidentes e mais congestionamentos nas cidades. Com tecnologia obsoleta, os veículos antigos são menos produtivos e consomem mais combustível do que os novos.
 
Do total da frota brasileira, estimada em 1,7 milhão de caminhões, 45% têm mais de 20 anos de uso o que representa cerca de 765 mil caminhões. E dentre eles, 270 mil estão com mais de 30 anos de uso. Há estimativas de que os veículos novos, com tecnologia desenvolvida, cheguem a emitir entre 80% e 90% menos poluentes do que aqueles fabricados até 1993. E 53% dos caminhões que circulam hoje no Brasil foram produzidos antes deste ano.
 
Sobre o IARC
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) é parte da Organização Mundial de Saúde. Sua missão é coordenar e conduzir pesquisas sobre as causas de câncer e desenvolver estratégias científicas para o controle da doença. A Agência está envolvida em investigação epidemiológica e laboratorial, disseminando informação científica através de publicações, reuniões, cursos e bolsas de estudo.
 
 

Caius Lucilius com Jéssica Kruckenfellner

Assessoria de Imprensa do HC Unicamp