Segurança do paciente na RMC é tema de jornada


Campinas está preocupada com a segurança do paciente. Foi o que mostrou a 1ª Jornada de Segurança do Paciente da Região Metropolitana de Campinas, realizada na manhã desta quinta-feira (3) no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde demonstraram esse cuidado ao discutir essa política do Ministério da Saúde que, através de uma portaria, virou lei desde 2013. “O assunto envolve muitas variáveis, mas, com empenho dos profissionais da área, é possível caminhar para políticas públicas com vistas ao paciente”, salientou o médico Antonio Gonçalves de Oliveira Filho, presidente do evento e coordenador de assistência do HC da Unicamp.

Segundo Antonio Gonçalves, essa política visa melhorar a segurança, evitando erros que certamente poderão afetar os pacientes, e melhorar todos os processos de atendimento. A jornada reúne hospitais de Campinas para discutir o assunto, entre eles o Centro Médico (CMC), o Hospital Madre Theodora, o Hospital “Dr. Mário Gatti”, o Hospital da Mulher “Prof. Dr. José A. Pinotti” – Caism e o Hospital Vera Cruz, além do HC da Unicamp.

A ideia inicial, informou o médico, era incentivar esse encontro para debater com as diferentes instituições a respeito das suas dificuldades e para trocar informações com os hospitais da região. “Tivemos aproximadamente 200 inscritos e a jornada tomou uma proporção muito grande devido ao alto interesse que as instituições e o público que lida com saúde têm demonstrado por essa questão. Dele participam enfermeiros, alunos, médicos, gestores, pessoas das áreas administrativas e de todos aqueles que em geral acompanham o paciente em suas enfermidades e que atuam no frontdo atendimento mais imediato”, salientou.

Num atendimento, são muitas as pessoas envolvidas e são muitas as variáveis que interferem na  assistência ao paciente. “A sobrecarga de trabalho é enorme e as necessidades são inesgotáveis. Assim, a falha é de fato inerente às pessoas”, realçou. “Entretanto, as ações de segurança do paciente visam mitigar possíveis erros. A ideia é maior: atuar até antes que eles ocorram. Isso pode ser conseguido com uma estratégia mais sistematizada”, sugeriu. 

Antonio Gonçalves dá um exemplo hipotético de um idoso que chega ao hospital e que toma uma medicação capaz de alterar a sua consciência. Ele sofre uma queda de pressão e passa hoje em dia por um protocolo de análise de possibilidades de queda. Se ele tem uma grande chance de cair, é tratado de uma forma diferente, com cuidados diferentes de uma pessoa jovem que não tem essa chance maior de cair. “Isso porque se o paciente cai, no hospital ou em qualquer lugar, ele pode quebrar o fêmur, bater a cabeça, o que pode piorar sobremaneira a estadia dele no hospital e as suas condições de saúde. São desastres que podem acontecer, porém são evitáveis.”

Projetos
O coordenador de assistência do HC lembrou alguns projetos do hospital que hoje dão atenção à segurança do paciente. Um deles é a metodologia Lean Health Care, que permite gerenciar o sistema de saúde em hospitais, em clínicas. “É um instrumento muito bom, contudo requer o completo comprometimento das pessoas. Aplica-se à segurança do paciente e também serve para diminuir custos e melhorar eficiência em processos e no atendimento. É o tema do momento”, garantiu.

“Nos Estados Unidos, mais ou menos 25% dos pacientes que entram nos hospitais estão sujeitos a algum tipo de erro”, informou Haggeas S. Fernandes, do Hospital Israelita Albert Einstein, na primeira palestra do dia. “Mas quando falamos de um erro, nem sempre isso implica danos ao paciente. Seria algo adverso, um quase evento”, acrescentou Antonio Gonçaves. “Todos estão sujeitos a erros e ações servem para evitar o erro. Elas são sempre muito bem-vindas. Já ouvimos falar de prescrição de medicamentos inadequada, de procedimentos desnecessários ou trocados. Esses são apenas alguns dos exemplos que acontecem para quem precisa de atendimento.” 

No HC da Unicamp, existe o programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas, da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Trata-se de uma sistemática em que se lança mão de um checklist em que é preciso verificar se aquele é mesmo o paciente certo para ser abordado, se será operado o rim certo, a perna certa e no local certo. É necessário checar se está tudo em ordem, se o paciente tomou todas as medicações prescritas, se ele é alérgico. Faz-se a checagem completa antes de começar uma cirurgia, para eliminar o erro”, contou.

Outro projeto do HC que vem no mesmo sentido é o Letra Boa, que incentiva que a letra do médico seja compreensível nos prontuários. “A letra do médico já se tornou um mito e é fato que repetidas vezes nem consegue entender a própria letra. Isso também faz parte da segurança do paciente porque, na hora que ele faz uma prescrição e anota com uma letra ininteligível, às vezes a pessoa que lê tem medo de perguntar e segue com uma conduta equivocada. Hoje, graças ao sistema de prescrição eletrônica, já não há mais essa desculpa. Mas falta muito para melhorar em termos de processos”, observou.

De acordo com o presidente do evento, essas discussões podem abrir campo para outras políticas públicas. “Daqui vão sair sugestões valiosas. Creio que esse tema tem que ser abordado desde os bancos escolares. Todavia, vejo que os alunos de medicina e de enfermagem têm que estar constantemente expostos a esse tema. Assim, quando for atuar, eles não vão ter que mudar de conduta de uma hora para outra. Vão chegar com essa cultura de segurança e ponto. Estamos tentando reunir uma proposta para encaminhar para a FCM e para a Faculdade de Enfermagem (FEnf), de incluir esse tema no currículo médico e no de enfermagem. Temos uma parceria sólida com a Vigilância Sanitária de Campinas, sempre no sentido de trocar ideias, experiências e melhorar a segurança do nosso paciente”, concluiu.

Texto: Isabel Gardenal

Assessoria de Imprensa da Unicamp