A Unidade de Emergência Referenciada (UER) do Hospital de Clínicas da Unicamp identifica evidências de violência contra aproximadamente 10 a 15% dos idosos que são atendidos na unidade todo mês. Segundo levantamento feito por duas alunas de pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, esse número inclui não apenas agressão física, mas negligência, abandono e abuso financeiro.
“Um grande problema é que não há números absolutos a respeito da violência contra a pessoa idosa”, afirma Maria Elena Guariento, docente da FCM. Ela explica que os casos de violência são subnotificados, o que impede uma percepção real da incidência desse problema nos idosos. Parte da dificuldade em identificar e classificar essas agressões é resultado da tentativa de ocultar a agressão, iniciativa dos agressores e também da própria vítima. “Muitas vezes o idoso tem medo de perder o pouco apoio que ainda tem, sente vergonha e humilhação”, conta.
Em contrapartida, a literatura médica e a experiência construída ao longo dos anos tem colaborado para a ampliação do conhecimento a respeito dos sinais indiretos de violência, que passam a ser melhor definidos. Maria Elena faz referência a um artigo recente para indicar um desses sinais, “a piora de uma doença crônica pode ser resultado de maus tratos, por exemplo”. Mas ela pondera que mesmo com evidências, reconhecer a violência é difícil.
“A violência aparece também nos pacientes que são atendidos no hospital através do ambulatório e também na internação”, cita. Nesses casos, pacientes vindos de instituições asilares, os chamados asilos, apresentam sinais de maus tratos. “Em um desses casos, a identificação das evidências levou a investigação em uma instituição, onde constataram os maus tratos e o asilo foi fechado”, relata.
Embora a agressão física seja a menos verificada nos levantamentos, Maria Elena alerta que isso não significa que ela é necessariamente o tipo de violência com menor incidência. “De maneira geral, a violência contra o idoso é subestimada”. Ela conta que só recentemente o cuidado e os direitos dos idosos têm sido defendidos, mas ainda não há uma estrutura como a estabelecida para proteger crianças.
“Se o idoso diz que está sentindo uma dor, muitos dizem que é normal, coisa da idade”, exemplifica. Para a médica, essa situação pode se caracterizar como abandono, porque o idoso acaba não recebendo atendimento médico ou sendo medicado corretamente. Maria Elena atribui parte do problema a percepção que a sociedade tem do idoso, como uma pessoa pela qual não há mais o que fazer ou que não merece a mesma atenção assistencial que os mais jovens.
Ambulatório de geriatria
O HC atende idosos em ambulatórios de diferentes especialidades, mas possui dois voltados exclusivamente ao atendimento geriátrico com uma média de 25 casos atendidos por semana. Uma vez por semana, dois profissionais do hospital oferecem avaliação geriátrica global na Unidade Básica de Saúde (UBS), no bairro Jardim Aurélia. “Mesmo com essa estrutura, precisamos aumentar o número de atendimentos para suprir a demanda”, afirma Maria Elena. A previsão é que até o final do ano o HC inaugure o terceiro ambulatório de geriatria e as equipes que atendem na UBS também ampliem a capacidade de trabalho.
Caius Lucilius com Jéssica Kruckenfellner – Assessoria de Imprensa HC